Foi uma passeata civil na cidade de Derry, na Irlanda do Norte, violentamente reprimida pelas autoridades britânicas, deixando 13 mortos e 14 feridos. Os manifestantes protestavam contra a política britânica de prender, sem julgamento, qualquer suspeito de fazer parte do IRA (Exército Republicano Irlandês), grupo terrorista que quer a independência da Irlanda do Norte. Esse território, que possui uma expressiva minoria católica, integra o Reino Unido, que é protestante. O conflito vem de longa data: os primeiros protestantes foram introduzidos na região no século 16, pelo rei Henrique VIII, levando os católicos a se refugiar no norte da ilha. O problema se agravou quando a República da Irlanda (no sul) conseguiu se tornar independente, no século 20, mas o norte continuou sob o domínio britânico.
RUAS SUJAS DE SANGUE
Protesto pacífico virou campo de batalha e acirrou tensões religiosas
1. No ensolarado dia 30 de janeiro de 1972, entre 5 mil e 20 mil pessoas se reúnem na área residencial de Creggan, em Derry, Irlanda do Norte, para reclamar contra as prisões arbitrárias de supostos membros do IRA. Era o segundo dia de marcha pacífica, apesar de o governo ter proibido, em 18 de janeiro, qualquer protesto na Irlanda do Norte até o final daquele ano
2. Às 15h25, os manifestantes já estão na rua Westland, próxima ao centro da cidade. Vinte minutos depois, encontram uma das barricadas do Exército na rua William. Aconselhados pela organização do evento, se desviam pela rua Rossville para se reunir na praça Free Derry Corner. No entanto, parte do grupo continua pela rua William, onde estão tropas britânicas
3. O exato estopim do conflito é incerto. Posteriormente, o general Robert Ford, comandante das tropas inglesas, afirma que elas foram recebidas a tiros pelos civis, mas nenhuma arma é encontrada no local. O fato é que houve o confronto – manifestantes com paus e pedras, soldados com balas de borracha, gás lacrimogênio e jatos de água. Dois civis levam tiros e ficam feridos
Trágica inspiração
A música “Sunday Bloody Sunday” (1983), do grupo irlandês U2, teria sido inspirada por este evento histórico. Nos shows, Bono a canta com uma bandeira branca
A canção Sunday Bloody Sunday, da banda irlandesa U2, é a primeira faixa e terceiro single do álbum War, sendo lançada em 11 de março de 1983, na Alemanha e na Holanda. Sunday Bloody Sunday é conhecida pela sua batida militarista, guitarra dura e harmonias melódicas. A letra descreve o horror do “Domingo Sangrento” em Derry na Irlanda do Norte, ocorrido no dia 30 de janeiro de 1972, quando tropas britânicas atiraram e mataram manifestantes de direitos civis.
Roteiro errado
Parte dos manifestantes seguiram por uma rua barricada e bateram de frente com o Exército
4. O Exército recebe instruções para prender o maior número possível de manifestantes. Uma unidade do Primeiro Batalhão do Regimento de Paraquedistas avança pelas ruas William e Rossville, inclusive com carros blindados e rifles SLR. Após 25 minutos de tiroteio, o saldo já era de 14 manifestantes mortos e 26 feridos (um deles morreu meses depois por causa dos ferimentos)
Dentre as vítimas, seis menores de idade foram mortos. Todas as vitimas estavam desarmadas e cinco delas foram alvejadas pelas costas.
Alguns dos mortos no massacre
Os manifestantes protestavam contra a política do governo irlandês de prender sumariamente pessoas suspeitas de atos terroristas. Essa política era dirigida contra o Exército Republicano Irlandês, o IRA, uma organização clandestina que luta pela separação da Irlanda do Norte da Grã-bretanha e posterior união com a República da Irlanda. Após o "Domingo Sangrento", o IRA ganhou um número enorme de jovens voluntários, dando força ainda maior a esse grupo guerrilheiro.
As palavras do médico legista da cidade, Hubert O’Neill, resumem bem o sentimento que o ocorrido deixou:
"Isso se tornou conhecido como domingo sangrento,e foi sangrento. Era desnecessário. Surpreende-me o que o exército fez nesse dia, atiraram sem pensar no que eles estavam fazendo. Eles estavam atirando em inocentes. Estas pessoas podem ter tomado parte em uma marcha que foi proibida, mas isto não justifica que as tropas tenham disparado indiscriminadamente contra eles. Eu diria sem hesitação que foi puramente um assassinato. Foi assassinato."
A canção Sunday Bloody Sunday ficou na posição 268° entre as 500 Melhores Canções de Todos os Tempos da revista Rolling Stone, em 2004. A revista britânica New Statesman classificou-a como uma das canções do "Top 20" das canções políticas.
5. Nos dias seguintes, em represália, o IRA convoca uma greve geral, atendida por 90% da população local. Manifestantes atiram pedras e bombas e incendeiam carros. Em Dublin, na Irlanda, é ateado fogo à embaixada britânica. O ressentimento dos católicos aumenta, bem como a luta armada por direitos civis – jovens não politizados passam a simpatizar com o IRA
6. O primeiro inquérito pós incidente acusa os civis de terem dado o primeiro tiro (ainda que um legista de Derry afirme que a morte dos manifestantes tenha sido “puro assassinato”). Mas, em 2010, um novo relatório conclui que os disparos do Exército não tiveram justificativas. O primeiro ministro britânico david Cameron se desculpa publicamente no Parlamento.
Trinta e oito anos depois do “Domingo Sangrento” – serão
divulgadas as conclusões do inquérito sobre a morte de 14 ativistas durante a
marcha pelos direitos civis da comunidade católica na Irlanda do Norte.
As investigações foram atribuídas em 1998, pelo então
primeiro-ministro britânico Tony Blair, a uma comissão liderada pelo juíz Mark
Saville.
Doze anos depois, o relatório final de cinco mil páginas –
que compila mais de 2500 testemunhos – foi finalmente entregue ao governo de
David Cameron, que apresentará as principais conclusões perante o Parlamento.
O inquérito sobre um dos incidentes mais marcantes das três
décadas de conflito intercomunitário na Irlanda do Norte custou uns
impressionantes 230 milhões de euros.
Os familiares dos 14 activistas mortos por paraquedistas
britânicos a 30 de Janeiro de 1972 sempre defenderam que os militares abriram
fogo sobre civis desarmados, que não tinham qualquer ligação com o IRA
(Exército Republicano Irlandês, antigo braço armado do Sinn Fein).
Fontes: http://pt.euronews.com/tag/domingo-sangrento/
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