Dispositivos eletrônicos são capazes de se desintegrar
depois de um tempo programado, sem deixar rastros no corpo
Novo dispositivo se dissolve em contato com a água ou
fluídos corporais (Fiorenzo Omenetto/Divulgação)
Pesquisadores criaram um pequeno dispositivo eletrônico que
pode ser implantado dentro do corpo do paciente por meio de uma cirurgia
simples, e nunca precisará ser retirado. Depois de cumprir sua função, o
aparelho irá simplesmente se dissolver, sem deixar nenhum rastro ou efeito
colateral. A chamada tecnologia transitória poderá ser usada para medir a
temperatura de partes específicas do corpo, monitorar atividades do cérebro,
coração e tecidos musculares ou aplicar medicamentos por períodos precisos de
tempo. "Esses eletrônicos existirão enquanto você precisar deles, e depois
que servirem a seu propósito eles desaparecem. Esse é um conceito totalmente
novo", diz Yonggang Huang, pesquisador da Universidade Northwestern, nos
Estados Unidos, e um dos autores do estudo.
Ao contrário de outros aparelhos eletrônicos, que são
desenvolvidos para durar, os circuitos transitórios desaparecem após um período
programado de tempo — de dias a meses. "Desde o começo da indústria da
eletrônica, um dos objetivos mais importantes é construir aparelhos que durem
para sempre. Mas quando pensamos na possibilidade oposta — aparelhos
desenvolvidos para desaparecer de maneira controlada e programada —, surgem
outras oportunidades de aplicação", diz o engenheiro John Rogers, da
Universidade de Illinois, que também participou da pesquisa.
Um dispositivo para monitorar e tratar infecções bacterianas
foi implantado em ratos pelos pesquisadores
No laboratório, os cientistas conseguiram criar
transistores, diodos, sensores de temperatura e tensão, células solares e
antenas de rádio que se dissolvem depois do contato com a água ou fluidos do
corpo humano. Para testar a efetividade da tecnologia, eles desenvolveram um
dispositivo de aquecimento, que poderia manter ferimentos livres de bactérias,
e o testaram em ratos. Ele foi implantado debaixo da pele do animal, perto de
cortes cirúrgicos, e programado para se degradar em 15 dias. Três semanas
depois do procedimento, ao examinar o rato, os pesquisadores não encontraram
sinais de infecção, e apenas pequenos resíduos do implante. O estudo foi
publicado nesta quinta-feira na revista Science.
Magnésio, seda e silício — Para criar o implante, os
pesquisadores usaram apenas materiais capazes de se desintegrar em contato com
a água. Os eletrodos foram feitos de magnésio, com camadas de silício entre
eles. O silício normalmente usado em aparelhos eletrônicos é capaz de se
dissolver em água, mas em velocidade tão lenta que pode demorar séculos até ser
totalmente absorvido pelo ambiente. Por isso, os pesquisadores tiveram que
desenvolver camadas muito finas do material. Tanto a quantidade de silício
quanto a de magnésio usada no eletrônico é menor que a recomendada para consumo
diário por nutricionistas — e está longe de fazer mal ao corpo.
Uma camada de óxido de magnésio e seda envolve o eletrônico,
e é a primeira a ser dissolvida no corpo do paciente. É a partir da espessura
dessa estrutura de seda que os pesquisadores decidem se o dispositivo vai durar
horas, dias ou meses.
Segundo os cientistas, a tecnologia transitória poderá ser
usada em outras áreas além da medicina. Eles citam, por exemplo, dispositivos
que monitoram o meio ambiente em locais distantes, e não precisariam ser
recolhidos depois que sua atividade chegasse ao fim. Com o avanço da
tecnologia, eles pensam que ela poderá ser usada mesmo em dispositivos
portáteis e eletrodomésticos comuns, que demoram séculos para se decompor e
podem até ameaçar o ambiente quando isso acontece.
Fonte: Abril.com


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