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Portugal é porta de entrada para “diamantes de sangue”

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CRIME: O JORNALISTA/ESCRITOR ANGOLANO RAFAEL MARQUES, AUTOR DO LIVRO "DIAMANTES DE SANGUE - CORRUPÇÃO E TORTURA EM ANGOLA", ESTÁ A SER PROCESSADO PELOS GENERAIS ANGOLANOS QUE O ACUSARAM DE DENÚNCIAS CALUNIOSAS. A ACUSAÇÃO DOS MILITARES ESTENDEU-SE À EDITORA PORTUGUESA "BÁRBARA BULHOSA", CUJOS RESPONSÁVEIS JÁ FORAM NOTIFICADOS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO PORTUGUÊS. SERÁ QUE TAMBÉM ME VÃO PROCESSAR????

Autoridades impotentes para travar tráfico das “joias eternas”

As poucas apreensões que se vão registando acabam por dar origem a processos que se arrastam no tempo. O Negócio está muito ligado ao mundo da diversão nocturna e do tráfico de armas.

Chamam-lhes diamantes de sangue. Alimentam conflitos, guerras civis e violações dos Direitos Humanos. As receitas do tráfico de diamantes ascendem a muitos milhões de euros. Dinheiro que é, quase sempre, usado pelos senhores da guerra para comprar armas. A Amnistia Internacional estima que quase quatro milhões de pessoas morreram devido a conflitos financiados com diamantes em Angola, na República Democrática do Congo (RDC), na Libéria e na Serra Leoa. Portugal é uma das portas de entrada destas pedras preciosas na Europa, cujo destino final será, segundo as investigações em curso na Polícia Judiciária, a Holanda e a Bélgica. E não há nenhuma lei eficaz que impeça o tráfico destas pedras preciosas no nosso País.

Apesar de existir um esquema de certificação de diamantes internacional - chamado Processo de Kimberley -, a verdade é que em Portugal as autoridades estão ainda a “leste do paraíso” e ninguém controla efectivamente o negócio destas pedras preciosas.

 “África é o continente de onde são provenientes a maioria dos diamantes que entram em solo português. Porém, temos a perfeita noção de que os casos detectados são uma pequena parte daquilo que realmente é traficado. Não temos meios humanos nem materiais para combater de forma eficaz esta situação e nunca foi sequer uma prioridade policial”, admitiu, ao "Noticias sem Censura", um responsável da Polícia Judiciária.


Angola é a grande fonte

Angola é o principal país identificado pelas autoridades portuguesas como fonte dos diamantes de sangue que entram no país. “Sendo um grande produtor de diamantes e existindo em Portugal uma enorme comunidade daquele país africano, é natural que grande parte dos cristais que aqui são introduzidos venham, efectivamente de Angola. Mas também existem registos de pedras preciosas provenientes da África do Sul e de outros países daquele continente, bem como da América do Sul, sobretudo do Brasil”, admitiu o responsável policial contactado pelo nosso jornal.

E a mesma fonte coloca o dedo na ferida: “É verdade que se trata de uma situação grave. Porém, não conheço qualquer lei em Portugal que impeça o comércio de diamantes, sejam eles devidamente certificados ou não. As únicas apreensões que têm sido feitas estão relacionadas sempre com outros crimes, nomeadamente associação criminosa ou fuga aos impostos. O tráfico em si não é punido legalmente.”

Miguel T., advogado da área criminal e com escritório na comarca de Sintra, assume que facturou milhares de euros com o negócio dos diamantes de sangue: “Fui arguido num processo que envolvia o tráfico de diamantes e acabei mesmo por ser julgado. Acabei condenado a um ano de prisão, com pena suspensa, por fraude fiscal. Uma ninharia, porque facturei mais de um milhão de euros. Paguei o meu carro, um Mercedes, a pronto. Com dinheiro à vista. O tráfico é feito muitas vezes com recurso a diplomatas.”, contou ao "Noticias sem Censura".

De acordo com este causídico, a maioria dos diamantes chega a Portugal através de malas diplomáticas que, segundo a legislação, não podem ser abertas pelas autoridades, nem sequer passar pelos sistemas de controlo existentes nos aeroportos ou portos marítimos que, para o efeito, porque importam, já que são completamente ineficazes para detectar as pedras preciosas, sobretudo se ainda estiverem em estado bruto.


Lavagem de dinheiro

“Eu só fui apanhado no âmbito daquele processo devido às enormes quantias que movimentava. A forma era simples: os diamantes eram vendidos. Depois eu depositava o dinheiro numa conta e, mais tarde, transferia para outra que me era indicada pelos traficantes de diamantes, apenas retendo a minha comissão. Desconheço qual o uso dado ao dinheiro, mas atendendo ao tipo de pessoas só poderia destinar-se a fins militares”, confessou aquele advogado.

Miguel T. assegurou que as autoridades só desconfiaram da situação devido a uma denúncia efectuada por um “arrependido”, um jovem de 19 anos que estudava em Portugal e que tinha na sua conta bancária mais de 500 mil euros, sem nunca ter exercido qualquer profissão.


As autoridades constituíram mais de 30 arguidos na sequência das investigações, a maioria cidadãos angolanos e o processo ainda hoje está pendente no Departamento de Acção e Investigação Penal de Lisboa. De acordo com fontes judiciais, é quase certo o arquivamento, por falta de provas e legislação sobre a matéria. A maioria dos arguidos não esperou pelas diligências policiais ordenadas pelo Ministério Público e há muito que regressou a Angola.

Assalto

O negócio de diamantes não é desconhecido aos empresários ligados ao mundo da diversão nocturna. Além de terem clientes “endinheirados”, utilizam, entre outras fontes de receita, os diamantes de sangue para financiar os seus negócios. Em investigação no Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa está ainda um processo, com mais de oito anos, relativo a um assalto, ocorrido no Campo Pequeno, e que vitimou um especialista na lapidação daquelas joias.

O assalto rendeu milhares de euros e o destino dos diamantes permanece desconhecido. Os assaltantes também nunca foram identificados, mas as suspeitas incidem sobre um grupo que liderava os negócios da noite na região de Lisboa.

“O tráfico de diamantes de sangue tem preocupado toda a comunidade internacional, mas Portugal prefere preocupar-se com o tabaco. Já é tempo de se tomarem medidas para combater este fenómeno, que provoca milhares de mortes anualmente. Só em Angola, em 2007, foram apreendidos pelas autoridades locais mais de 30 mil diamantes não certificados e que renderiam no mercado negro milhões de euros”, rematou um alto responsável da PJ.

Portugal, que é um dos países que subscreveu o “Processo de Kimberley”, ainda não constituiu, até à presente data, uma “autoridade comunitária” para controlar o comércio de diamantes em bruto, estando essa tarefa entregue à Direcção-Geral das Alfândegas e Impostos Especiais de Consumo.


“Vou processar o Estado”

Em Novembro de 2003, José Castelo Branco, um conhecido “marchant” de arte português, casado com uma americana desenhadora de joias, Betty Grafstein, foi detido no Aeroporto da Portela, por estar na posse de peças preciosas alegadamente ilegais e onde se incluíam diamantes. O lote então apreendido pelas autoridades foi avaliado em mais de dois milhões de euros e o “marchant” acusado de estar na posse de joias não declaradas aos serviços alfandegários e da consequente evasão fiscal.

Castelo Branco passou uma noite detido no Estabelecimento Prisional da Polícia Judiciária e, após um interrogatório de apenas 45 minutos, no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, foi colocado em liberdade, sujeito apenas a termo de identidade e residência. As joias acabaram por lhe ser devolvidas.

Passados mais de 9 anos, o “marchant” nem quer ouvir falar do caso. “Foi a mais perfeita loucura da polícia portuguesa. A minha mulher andar cheia de joias é a coisa mais normal do mundo, porque é esse o seu sustento. Se fosse a ´Maria das iscas’ a estar carregada de joias era de estranhar. Mas a minha mulher é uma desenhadora de joias. Sinceramente, não quero falar disso”, disse, recentemente, José Castelo Branco, adiantando que o processo em causa foi arquivado pelo Ministério Público.

Mas o “marchant” ainda quer ajustar as contas com as autoridades: “Não houve qualquer justificação para a minha detenção. Foi uma estupidez. Está, naturalmente, em curso um processo contra o Estado português, por detenção ilegal e pelos enormes prejuízos profissionais e pessoais que me causaram. Mas, como disse, é um assunto do qual não quero falar. A seu tempo tudo será devidamente esclarecido.” Ainda não foi.

Confrontado com o facto de poder ter na sua posse os denominados diamantes de sangue, Castelo Branco foi peremptório: “Isso é impossível. Mas preocupa-me a utilização dessas pedras para financiar guerras, assim como o tráfico de droga, que é usado para esse e outros fins.”

Ninguém se questiona????

As apreensões revertem a favor do Estado mas o processo é nebuloso


UM LOTE DIAMANTES DESAPARECIDO?

Em 2004 a PJ apreendeu mais de um quilo de pedras preciosas, mas ninguém sabe dizer onde é que elas estão. Uma empresa turca está a “arder” até hoje com o negócio.

Na sequência de uma denúncia, a Polícia Judiciária apreendeu, em Outubro de 2004, um lote de diamantes em bruto no Aeroporto da Portela. As pedras eram provenientes do Congo e destinavam-se à Turquia. Estavam na posse um membro da Transportadora Aérea de Angola (TAAG) e pesavam mais de um quilo, correspondentes a 4496,51 quilates. O caso deu origem ao inquérito nº 128/04.8 da 8ª Secção do Departamento de Investigação e Acção Penal, do 3º Juízo do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, e os “diamantes de sangue”, apesar de serem alegadamente provenientes de Brazaville, no Congo, e terem como destino Instambul, na Turquia, foram reclamados pelo estado angolano.

Quem permanece à espera dos diamantes é a empresa turca, que pagou mais de 300 mil euros pelo lote de diamantes. Apesar de já ter pedido ao estado português a sua devolução, tem visto chumbados todos os recursos que interpôs no Tribunal da Relação, o último dos quais em 2007. Os juízes alegaram que a empresa turca só seria proprietária dos diamantes quando o lote lhe fosse entregue em Instambul. Além disso, salientaram os juízes da Relação que já analisaram o processo, ainda não se conseguiu, até hoje, esclarecer a verdadeira proveniência dos diamantes e como é que vieram parar a Portugal. Acresce que, até hoje, nunca foi feita qualquer perícia aos diamantes, apesar dela ter sido requerida pelos turcos e o processo arrasta-se no DIAP sem que tenha sido deduzida qualquer acusação.


Caixa Geral é que vende

O "Noticias sem Censura" tentou apurar onde é que se encontram, actualmente, os diamantes, na posse de quem e qual será o seu destino. “Estão à ordem do tribunal”, é a única explicação. Guardados onde? A render juros para quem? Caso revertam a favor do Estado que entidade é que ficará com eles? Como serão vendidos? Que destino é, afinal, dado aos poucos “diamantes de sangue” que, apesar de tudo, ainda vão sendo apreendidos pelas autoridades portuguesas? Ninguém consegue responder com exactidão, assistindo-se a um verdadeiro jogo de “ping-pong” entre polícias, tribunais, Caixa Geral de Depósitos e organismos governamentais.

“A apreensão de objectos, no âmbito penal, é uma temática importante e complexa, quer pela vasta legislação, quer pelas dificuldades práticas que são sentidas na tramitação, nomeadamente quanto ao seu armazenamento e respectivos procedimentos, bem como ao destino a dar aos mesmos (destruição, venda e destino das verbas daí resultantes)”, lê-se num documento assinado por Alexandre Silva e Vítor Mendes, dois oficiais de justiça, que elaboraram, em 2004, um “Manual Sobre Objectos Apreendidos”, que pretendia colmatar, já naquela altura, as dificuldades sentidas pelos funcionários judiciais, quanto à legislação aplicável, bem como o modo de proceder, relativamente ao produto da venda dos objectos declarados perdidos a favor do Estado, nomeadamente quanto às divisões de tal produto e entidades beneficiárias.

A lei, no entanto, segundo aqueles dois técnicos de justiça, é clara nesta matéria. Assim, consideram-se perdidos a favor da Fazenda Nacional, todos os diamantes em bruto ou não lapidados (Artº. 9º nº. 1 do Dec. Lei 139/91, de 10.04). Os diamantes apreendidos devem ser depositados na Caixa Geral de Depósitos, e esta, como instituto de crédito do Estado, tem o dever de “arrecadar e restituir todos os valores em dinheiro, títulos ou outras espécies, cujos depósitos devam por lei fazer-se obrigatoriamente nos seus cofres. Acresce que as autoridades, tribunais e quaisquer outros serviços públicos não podem ordenar ou autorizar a constituição de depósitos fora da caixa. Os depósitos são feitos por meio de guias em triplicado, devendo estas mencionar: o nome e qualidade do depositante; o local onde é efectuado o depósito; a quantia, nos depósitos em dinheiro; a proveniência do depósito ou fins a que se destina; a entidade que ordenou o depósito ou disposição legal que o determina e entidade à ordem de quem fica; e se é o primeiro depósito ou se o número da conta já existe.

Nos depósitos constituídos por objectos, como é o caso dos diamantes, devem ser metidos em caixas ou volumes cintados, lacrados ou selados e rubricados pela entidade que ordenou a sua constituição, devendo as guias descrever a forma, sinais, rubrica e sinete ou selo que cada volume tiver. Cada depósito pode ser constituído em mais de um volume, mas um só volume não pode conter depósitos de diversas proveniências.



Lei é "bonita"

Depois de declarada a perda a favor do Estado, a Caixa Geral de Depósitos tem apenas 30 dias para vender os diamantes, revertendo 85% do valor conseguido para a Fazenda Nacional e os restantes 15% para as entidades que fizeram a apreensão (polícias).

Porém, no caso dos diamantes do Congo, estes permanecem apreendidos algures num cofre da Caixa Geral de Depósitos há quase uma década. Mas ninguém soube dizer ao “Noticias sem Censura” onde estão concretamente, porque, passados todos estes anos, o caso permanece em segredo de justiça.

“O que a letra da lei diz é muito bonito, mas na prática não significa que os trâmites legais sejam cumpridos, porque ninguém fiscaliza estas operações. O Estado fiscaliza-se a ele próprio e as fugas ao longo do processo não só são possíveis, como existem de facto”, admitiu ao “Noticias sem Censura” um responsável da Direcção Geral da Administração da Justiça, rematando: “Alguma vez alguém viu publicado um anúncio nos órgãos de Comunicação Social ou divulgado publicamente pela Caixa Geral de Depósitos ou por qualquer outro organismo estatal a venda em hasta pública de diamantes? Nunca tal aconteceu, mas a verdade é que há vários registos de apreensões milionárias feitas ao longos dos anos pelas autoridades. Todo o processo da venda de bens apreendidos pelo Estado, da distribuição das verbas daí obtidas e do seu destino final é bastante nebuloso. E não é só com os diamantes que isto se passa.”

Apreensões não são frequentes

Não têm sido muitas as operações policiais mediáticas que envolveram a apreensão de diamantes em Portugal. O tráfico de diamantes é feito por via aérea ou marítima e as autoridades não dispõem de meios técnicos, nomeadamente nos aeroportos, para detectar as pedras preciosas, sobretudo se elas se encontrarem no seu estado bruto. “Os diamantes não são detectados pelos sensores de metais e em bruto são difíceis de identificar quando passam pelas máquinas de raio ‘X’, além de que não é possível treinar cães para detectar pedras preciosas”, explicou ao “Noticias sem Censura” Mário Andrade, responsável do Sindicato dos Profissionais de Polícia e com larga experiência na área da investigação criminal, acrescentando: “Em pequenas operações de combate ao negócio da droga são apreendidas, por vezes, pedras preciosas, entre as quais diamantes, mas nada que sugira o seu tráfico.”

A última grande apreensão de diamantes registada em Portugal e amplamente noticiada registou-se em Outubro de 2011, quando a Polícia Judiciária desmantelou uma rede de crime organizado que se dedicava a todo o tipo de negócios ilícitos: fomentava o tráfico de diamantes e outras pedras preciosas, de droga, de chifres de rinoceronte e mercúrio e chegavam até a clonar cartões. Lavavam também dinheiro através de transferências milionárias, que tinham a América do Sul na origem e Portugal como ponto de passagem.

Na operação, que culminou em 42 buscas domiciliárias e envolveu mais de 100 inspectores, a PJ constituiu 19 arguidos, entre eles dois advogados. O núcleo duro da rede tinha como principal tarefa encontrar pessoas dispostas a prestar todo o tipo de serviços ilegais. Eram contactados por outros criminosos, que se dedicavam essencialmente ao tráfico de pedras preciosas e à lavagem de dinheiro. Depois cabia-lhes encontrar quem estivesse disposto a participar nos negócios ilícitos. A rede era já investigada há mais de um ano. A PJ mandou analisar em laboratório os diamantes encontrados, de forma a apurar o seu real valor, mas os resultados nunca foram tornados públicos. O caso está em segredo de justiça e as investigações ainda decorrem.

Na última década apenas há o registo de mais quatro detenções por tráfico de diamantes: um cidadão residente no Alentejo foi apanhado pela GNR no aeroporto de Lisboa com 179 diamantes em bruto escondidos num sapato; uma mulher foi detida com meia dúzia de pedras escondidas na vagina, no aeroporto Sá Carneiro (Porto); quatro indivíduos foram presos no Porto por terem na sua posse 33 diamantes de sangue avaliados em 50 mil euros, sendo um dos detidos chefe da esquadra da PSP da Foz do Douro; e, finalmente, uma conhecida traficante de droga foi apanhada com estupefacientes e 31 diamantes, em Famalicão. Nenhum dos arguidos destes processos se encontra efectivamante preso pelo crime de tráfico de diamantes e a mulher que escondia as pedras preciosas nas partes íntimas já foi condenada a pagar 2.250 euros pela tentativa de introduzir os diamantes em solo português.

A legislação que regula o negócio ilícito de diamantes em Portugal remonta a 1991 e prevê penas de prisão até três anos se as pedras valerem mais de 25 mil euros ou a fuga aos impostos for superior a 7.500 euros. Devido à moldura penal, a prisão preventiva não se aplica. Os processos arrastam-se anos e anos pelos tribunais.

A tragédia e o filme

Entre 1991 e 2002, na Serra Leoa, onde, segundo a Amnistia Internacional, decorreu uma guerra civil financiada com diamantes de sangue, mais de 50 mil pessoas foram mortas, dois milhões de habitantes fugiram do país e milhares de mulheres foram mutiladas, violadas e torturadas. Aquele país ainda hoje está a tentar refazer-se das consequências da guerra civil.


Foi precisamente tendo o caos e a guerra civil que assolou a Serra Leoa nos anos 90 como pano de fundo que se realizou o filme “Diamantes de Sangue”. Na produção cinematográfica conta-se a história de Danny Archer (Leonardo DiCaprio), um ex-mercenário do Zimbabwe, e de Solomon Vandy (Djimon Hounsou), um pescador local que trabalha no garimpo de diamantes. Os destinos das duas personagens unem-se numa luta pela recuperação de um raro diamante rosa encontrado por Solomon e que pode não só permitir ao garimpeiro salvar a mulher e as filhas, condenadas a viver como refugiadas, como também ajudá-lo a libertar o filho de um destino mais cruel: o de menino-soldado. Um simples cristal de carbono pode definir, tanto no filme como na vida real, o destino de muitas vidas.

Rui Pereira foi assassinado quando comprou um “lote milionário”

Negócio de uma vida acaba em morte.

Viviam-se épocas conturbadas em Angola. O ano era o de 1975 e a guerra civil provocada pelo processo de descolonização português estava ao rubro. Rui Pereira, na altura com pouco mais de 30 anos, cedo percebeu que o seu destino, da mulher e dos quatro filhos em território africano tinha os dias contados. Começou a preparar a viagem com destino a Lisboa. Mas o destino pregou-lhe uma partida.

Numa tarde ensolarada, Rui estava na papelaria de que era proprietário na cidade de Silva Porto (actual Kuito, província do Bié), quando foi abordado pelo amigo Carlos B. e por um cunhado daquele, também chamado Carlos. O motivo era muito simples: Carlos B. sabia que estava à venda um lote de diamantes de sangue na zona diamantífera de Malanje, Norte de Angola, e queria ter Rui Pereira como sócio para o adquirir.

Rui Pereira juntou todo o dinheiro que tinha, inclusive verbas provenientes da venda da lotaria, que pertenciam ao Estado, e rumou a Malanje com os dois sócios. Compraram o maior lote ilegal de diamantes de que havia memória até então na região diamantífera. Pagaram mais de dois mil contos pelas pedras preciosas e iniciaram a viagem de regresso a Silva Porto. Tinham feito o negócio das suas vidas.

Mas as coisas correram mal. Ainda na província de Malanje foram abordados por um grupo armado. Rui Pereira e o cunhado de Carlos B. foram brutalmente chacinados a tiro e os seus corpos abandonados no meio de coisa nenhuma.


Em Silva Porto, Maria da Guia, a esposa de Rui Pereira, começou a temer o pior. Esperou e desesperou, até que, acompanhada de vários familiares, partiu para Malanje, onde participou o desaparecimento do marido.

As buscas levaram dias. Mas nada foi encontrado. Maria da Guia regressou a Silva Porto com uma ténue esperança de ainda encontrar o marido com vida. Um telefonema da Polícia a requesitar a sua presença em Malanje. Uma ida à morgue. Um reconhecimento feito apenas pelos dentes do cadáver putrefacto de Rui Pereira. Um funeral. Uma família desfeita.

As autoridades ainda chegaram a prender alguns dos elementos do bando de assassinos e Carlos B., na altura considerado o principal suspeito de ter ordenado a morte do cunhado e de Rui Pereira. Mas a guerra acabou por os colocar a todos em liberdade. Carlos B. é, hoje em dia, um empresário de sucesso do ramo dos combustíveis, na zona centro de Portugal.

Maria da Guia veio para Portugal. Na bagagem apenas trazia dor. Muita dor. Foi viver para um prédio de renda social na Zona “J” de Chelas, onde criou os filhos. Um deles, Rui Pereira, agora com 46 anos, não consegue esconder a raiva quando recorda o sucedido. Prefere não falar. Limita-se a esconder a cabeça entre os braços, sem conseguir evitar que as lágrimas lhe escorram pelo rosto. E se as lágrimas são a pura linguagem do amor, para Rui, elas são de sangue...

O que é?

O diamante é a única pedra preciosa composta de um único elemento: o carbono. São extraídos principalmente da ex-URSS, África do Sul e Zaire, que juntos contribuem com mais de 70% da produção mundial. Outros produtores importantes incluem o Botswana, a China, o Brasil, Angola e a Namíbia. No entanto também se encontram alguns diamantes nos EUA (Arkansas, Virgínia, Wisconsin e Califórnia). A Índia, que era o único exportador de diamantes antes do séc. XVIII, tem actualmente uma quota bastante reduzida na produção.

Também já foram encontradas estas pedras preciosas em meteoritos. São os chamados nanodiamantes e os mais conhecidos foram encontrados na cratera produzida pelo meteoro “Allende”, na América do Sul, que, segundo os cientistas, são mais velhos que o Sol. Têm entre 4,6 a 12 biliões de anos, a idade do Sol e da nossa galáxia respectivamente. O diamante é a matéria mais velha que se pode possuir.

Em 1955 cientistas da General Electric Company, empresa americana, conseguiram um método eficaz para a síntese de diamantes artificiais. Os diamantes assim fabricados eram de qualidade industrial e são, hoje em dia, produzidos em larga escala. Podem ser usados para cortar, tornear e furar quartzo, vidro e artigos cerâmicos. O pó dos diamantes é mesmo utilizado para polir materiais altamente resistentes, como o aço. Cristais com a qualidade dos diamantes só se conseguiram sintetizar em 1970, através de um processo que exige pressões e temperaturas extremamente elevadas


Conselho Superior fica no papel

Em 2006, para complementar o “Processo de Kimberley”, tentou-se criar a Associação dos Países Africanos Produtores de Diamantes (ADPA), cujo objetivo era dar àquele continente (responsável pela introdução no mercado internacional de mais de 60% dos diamantes) uma voz ativa na definição da estratégia mundial do sector diamantífero. Em 2008 chegou a estar marcada uma cimeira, em Luanda, Angola, para avaliar as formas de combate ao tráfico de diamantes. O encontro foi adiado e nunca mais foi marcada qualquer data para a sua realização. A lei sobre a matéria, que vigora desde 1991, também previa a criação em Portugal do Conselho Superior do Diamante. Duas décadas depois isso nunca aconteceu e os poderes atribuídos a este organismo são exercidos pela Direção-geral das Alfândegas (combater a fuga aos impostos ligada ao comércio ilegal de diamantes, desde a entrada no país das pedras preciosas).

“A Direção-geral das Alfândegas, a Guarda Fiscal e a Polícia Judiciária deverão tomar todas as medidas necessárias a um rigoroso controlo do tráfico de diamantes em bruto ou não lapidados e das restantes pedras preciosas, bem como da sua entrada e saída do País. Deverá ser implantado um sistema que permita assegurar o adequado controlo das transações, por forma a obter a certificação da respectiva conformidade às exigências do presente diploma. As funções de coordenação e fiscalização de todas as operações relacionadas com o exercício da atividade diamantária serão desempenhadas pelo Conselho Superior do Diamante. Enquanto não for definido o quadro funcional do Conselho Superior do Diamante as suas atribuições serão exercidas pela Direção-geral das Alfândegas”, lê-se no Decreto-Lei n.º 139/91, assinado na altura pelo então primeiro-ministro e atual presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e promulgado por Mário Soares. Certo é que o Conselho nunca passou do papel.

Milhares de “razões” para matar

Não é difícil perceber as razões que levam pessoas menos escrupulosas a matar pelos diamantes. Uma pedra com um quilate (ou um quinto de grama) pode facilmente valer um milhão de euros. O diamante mais valioso que se conhece é o “Cullinan”, ou “Estrela de África”. Tem 506 quilates e não tem preço. Há quem lhe atribua um valor de 400 milhões de euros, verba para tirar da miséria todo o continente africano. Logo a seguir surge a “Estrela de África Menor”, ou “Cullinan II”, com 317,4 quilates e também sem preço.

O “De Beers Centenary Diamond”, avaliado em 100 milhões de euros e o “Estrela do Milénio”, avaliado em 205 milhões, são apenas mais dois exemplos do valor que estas pedras de carbono podem atingir. Até hoje, o diamante mais caro do mundo efectivamente vendido é o “Wittelsbach”, comprado pelo joelheiro inglês Laurence Graff, por 24 milhões de euros. É azul e tem 35,56 quilates, ou seja, 14 vezes mais pequeno que o “Estrela de África”. Estes são alguns dos certificados pelo “Processo de Kimberley”. Dos outros, não reza a história.

http://noticiassemcensura.blogspot.pt/2013/05/portugal-e-porta-de-entrada-para.html
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Adrien Marinho 2

Adrien Marinho: Formei-me em direito e Publicidade, faço MBA em Gestão, sei desenhar e Tenho TDA. O objetivo da página e do blog é alertar contra as injustiças e ganância do homem, e achei essa forma de contribuir, pois com ela, consigo alcançar milhares de pessoas. Espero que você também acorde, estão te envenenando!! Somos muitos, com os mesmos ideais!!
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