Data comercial criada para alavancar vendas não é realidade de todas as crianças, principalmente no Brasil
12 de Outubro, dia das crianças, essa data comercial criada para alavancar vendas não é realidade de todas as crianças, principalmente no Brasil. A data passou a ser comemorada por volta dos anos 1960 quando a fábrica de brinquedos Estrela lançou a Semana do Bebê Robusto junto com a multinacional Johnson & Johnson. Desde então essa data é dada como obrigatório para o consumo de artigos voltados para as crianças.
A criança hoje, é o principal alvo do mercado publicitário, já que por si só, movimento cerca de 170 bilhões de dólares no mundo, o que é maior do que o PIB de cerca de 70 países pobres (1). O mercado publicitário investe pesado na s crianças, com cerca de 6 mil anúncios diários divulgas por todos os tipos de mídia existentes, elas recebem status de consumidoras no mercado, antes mesmo de estarem aptas ao exercício pleno de sua cidadania. No Brasil, a publicidade voltada para a criança é ainda mais forte, já que a criança brasileira é das que mais assistem TV no mundo: passa mais de 5 horas do dia sentada em frente à tela, em média, em lugares com maior vulnerabilidade social (como nas periferias), a TV se instala com mais prioridade, números mostram que essas crianças assistem até inacreditáveis 9 horas de televisão por dia, sendo bombardeada à todo instante com anúncios de brinquedos ou artigos infantis, coisa muito fora da sua simples e sofrida realidade.
Os anúncios publicitários são criminosos, contém mensagens abusivas que vendem a falsa ideia da realização de sonhos, felicidade e inclusão social pela posse de mercadorias. Reforça a tese que o valioso é ter, e não ser. Hábito que mais tarde acaba se tornando comum quando são adultos, e assim o ciclo se repete.
Para reflexão, fecho esse pequeno texto com uma música do grupo de rap Facção Central, que é pertinente e mostra que a realidade dos mais pobres ( a maioria do país) é bem diferente do que se vende nessa data comercial.
12 de Outubro - Facção Central
Cadê o meu presente, o meu abraço?
A bicicleta que eu sonhei não vem com o laço.
Não tem bolo, nem alegria.
É dia das crianças, mas não pra periferia.
Queria fugir daqui, é impossível,
Eu não queria ver lágrimas, é difícil.
Meus exemplos de vitória estão todos na esquina,
De Tempra, de Golf, vendendo cocaína.
Bem melhores que minha mãe no pé da cruz
Pedindo comida, um milagre pra Jesus
Antes dos doze eu vou estar com o oitão,
Matando alguém, sem compaixão.
Vou ver o filho, a mulher, chorando no corpo.
Vou dar risada, vou dar mais uns quatro no morto.
Eu vou brincar de assassino descarregando um 38.
Legal a cara explodindo, voando um olho.
Hoje é dia das crianças, e daí?
Quem vê sangue não tem motivo pra sorrir.
Não existe presente na caixa com fita.
Só moleque morrendo na mesa de cirurgia.
Hoje é dia das crianças, e daí?
Quem vê sangue não tem motivo pra sorrir.
Não existe presente, alegria.
Nem dia das crianças na periferia.
Não dá pra ser criança comendo lixo,
Enrolado num cobertor sujo e fedido.
É ''dá esmola pelo amor de Deus'' um dia.
No outro ''é assalto! Não reage vadia!''
O que eu vou ser quando crescer?
Quer dizer, se eu crescer, se eu não morrer.
Um assaltante de banco, um assassino,
Descarregando minha pt no seu filho.
Eu vou fazer um rolê e buscar meu presente :
Uma vítima, anel de ouro, corrente.
Vou mostrar minha pureza,
Eu vou matar um cuzão por uma carteira.
Feliz dia das crianças, é 12 de outubro.
Põe um brinquedo, em cima do meu túmulo.
Quem brinca com revólver não conhece a alegria.
Não tem dia das crianças na periferia.
Posto de saúde, Paz, Grajaú.
Feliz 12 de outubro, zona sul.
Desrespeitam um médico ausente.
O filho do nordestino aqui não é gente.
Depois querem formatura e alegria.
Mas que se foda se eu tô com meningite, pneumonia.
O Brasil não me respeita, quer me ver morrer,
Quer um preso a mais,
Por quê que eu fui nascer?
Pra não ter um carrinho, um danone,
Ou tráfico uma droga, ou morro de fome.
Se eu não meter uma faca nas suas costas,
A minha chance é 1oo% de acabar nessa bosta.
Pra ter um brinquedo, só com latrocínio.
Se não for jogador de futebol vou ser bandido.
Queria ter um video-game, como eu queria.
Mas não tem dia das crianças na periferia
''É mano,
Queria um video-game.
E de presente, eu ganhei um cano.
Não tem dia das crianças na periferia.''
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