Quem visita Itaboraí, município de 227 mil habitantes a 51 km da capital do Rio, encontra uma cidade estagnada a esperada da retomada do Comperj, refinaria da Petrobras em construcao desde 2008 no local.
As denuncias de corrupcao levantadas pela operacao Lava Jato paralisaram o empreendimento e levaram a uma onda de demissoes.
A obra chegou a ter 35.500 trabalhadores no pico das atividades, em agosto de 2013, de acordo com a Petrobras. Em dezembro, eram 23.000. No mes passado, 10.600. Atualmente, segundo o sindicato local, restam 4.500.
Apesar dos cartazes que avisam que nao ha vagas, operarios desempregados fazem fila na porta dos escritorios de empreiteiras em busca de oportunidade.
A Folha esteve por duas vezes em Itaborai na ultima semana. O arrefecimento da atividade economica e perceptivel na cidade. Predios comerciais recem-inaugurados com placas de "aluga-se" nas fachadas de vidro espelhado estao sem locatarios. Hoteis, que antes hospedavam engenheiros e gerentes da obra, nao tem movimento.
As demissoes comecaram de maneira pontual a partir do inicio do segundo semestre do ano passado, como reflexo do modelo de gestao da entao presidente da estatal Graca Foster, que passou a rever os contratos e represar aditivos.
Quando o teor da delacao premiada do ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, Paulo Roberto Costa, responsavel pelo Comperj, veio a publico, em outubro do ano passado, a Petrobras congelou os contratos e vieram demissoes em massa.
A Petrobras tinha contratos com 24 empreiteiras no Comperj em janeiro, 16 das quais investigadas.
O exodo rumo a Itaborai comecou em 2006, quando o entao presidente Luiz Inacio Lula da Silva lançou as obras de terraplanagem de um terreno de mais de 45 km quadrados na cidade, que ate então tinha a economia movida pelas fabricas de cerâmica e pelo cultivo de laranjas e plantas ornamentais.
A população cresceu 21% nos últimos 14 anos, segundo o IBGE.
Estima-se que 70% dos trabalhadores da obra sejam de outros Estados. Muitos ficaram sem ter como voltar depois de perderem o emprego.
A prefeitura estima que 140 ex-funcionários do Comperj estejam sem ter onde dormir na cidade. Entre 2008 e 2011, os gastos com assistência social subiram 218%.
"Vou mandar minha mulher e minha filha de volta para a Bahia e vou procurar emprego em outros Estados. Creio que a situação do Comperj nao vai melhorar tao cedo", disse o montador de andaime Joao Batista Moreira dos Santos, 30, demitido em janeiro.
Moreira vive ha quatro anos em Itaboraí, onde casou, teve uma filha, hoje com 2 anos, e construiu uma casa. Seu ultimo trabalho foi na Toyo Setal, investigada na Lava Jato. "A casa e própria, mas a comida nao e."
A paralisação das obras frustrou o mercado imobiliario e reduziu o movimento do comercio. A avenida 22 de maio, a principal da cidade e por meio da qual se chega ao Comperj, e um termômetro da economia local.
Cinco predios comerciais -um deles com heliporto, duas torres de salas e um hotel- estão prontos, mas sem locatários. A reportagem contou 35 placas de "aluga-se" ao longo da avenida.
De acordo com a prefeitura, ha 4.000 salas comerciais vazias na cidade. O percurso de 20 quilometros do centro da cidade ao canteiro levava no passado cerca de duas horas no horario de pico. Atualmente, sao 30 minutos.
ENTENDA A CRISE
O orcamento inicial do Comperj era de R$ 6,5 bilhoes. Hoje esta em torno de R$ 13,5 bilhoes. O primeiro prazo anunciado para sua conclusao foi em 2011. A Petrobras chegou a dizer que o empreendimento ficaria pronto em abril deste ano, mas depois da investigacao, a obra esta sem prazo.
Os contratos passam por investigacao da Lava Jato, do TCU e de uma auditoria interna da Petrobras.
Operarios afirmam que estao pagando o preco da corrupcao dos politicos e que foram abandonados pelo governo. O soldador desempregado Leno Ferreira Correa, 63, demitido da obra no ano passado, defendeu prisao aos corruptos.
"Estamos pagando o pato por uma coisa com a qual nao temos nada a ver. Se entrarmos no mercado e pegarmos um quilo de arroz, vamos presos na hora. Esses corruptos ai tem que ir para a cadeia", disse ele, que tem cinco filhas e e morador da cidade.
Fonte :Folha
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