Foto 1: São nove pistas de 3,5m para os carros e apenas duas calçadas
estreitas e deslocadas para as pessoas! |
Após a inauguração da "nova" Fonte Nova, uma placa de trânsito instalada no local me chamou a atenção porque proíbe a circulação de pedestres (ver abaixo). No dia 21/08/2013, retornei para fotografa-la. Estava lá, intacta, no mesmo lugar. Aproveitei para andar e registrar outros absurdos. Como uma obra desse porte, realizada após a Constituição Federal de 1988, o Estatuto das Cidades de 2001 e a Lei da Mobilidade Urbana de 2012, reduz a acessibilidade das pessoas, ao invés de aumentá-la?
Foto 2: Placa de proibição de trânsito de pedestre
nas proximidades da Fonte Nova. |
A Constituição Federal diz "é livre a locomoção no território nacional", mais adiante aborda o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e a garantia do bem-estar de seus habitantes. O Estatuto das Cidades reafirma o que a constituição estabelece e fala na "justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização (...), de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais" e a Política de Mobilidade Urbana traz a mobilidade não motorizada como prioridade, logo colocando em primeiro plano o respeito ao pedestre.
Mas não é nada disso que vemos nas proximidades do novo estádio de futebol soteropolitano. São poucas e estreitas as áreas de circulação para pedestres, principalmente para os que vêm pela avenida Djalma Dutra, pois as possibilidades ficaram muito reduzidas com as obras.
Na foto aérea da antiga Fonte Nova (Foto 3), há muito mais áreas com vegetação e sombreamento do que se pode ver hoje em dia (Foto 4), depois da construção da nova arena. Na primeira, ainda se vê o saudoso Balbininho, cuja área se transformou num enorme estacionamento, deixando os baianos carentes de um complexo poliesportivo daquele porte.
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Foto 4: Em 2013, priorizam-se os carros, com o aumento das
vias e acessos para os veículos.
Fonte: Google Earth
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Após as obras, aumentou-se muito a impermeabilidade do solo, com a construção de um grande estacionamento e a implantação de muitas pistas de acesso dos carros ao estádio. Mas nem sempre foi assim. Uma foto antiga, encontrada no Google Earth, mostra uma paisagem verde e arborizada, por onde os pedestres podiam andar, mesmo que precariamente. Havia espaço para que outras melhorias acontecessem no local.
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| Foto 5: Antes das intervenções a área era mais arborizada. Fonte: Caio Graco Machado |
Vendo hoje pela perspectiva humana, perdemos muito: diminuiu-se o verde em troca do concreto dos viadutos, que dão acesso ao estádio, e o espaço para o pedestre ficou quase nulo.
Foto 6: Após as intervenções, é viaduto para todo lado.
Poucas árvores e pouco espaço para os pedestres. |
Foto 7: No canteiro central é proibido pedestre, e nas laterais
não é possível o trânsito de pessoas. |
Não há largura mínima adequada para a circulação de pessoas. O mínimo espaço restante (foto acima, à direta) foi utilizado para a instalação de postes. E se desobedece às claras o Código de Trânsito, que permite a "utilização de parte da calçada para outros fins, desde que não seja prejudicial ao fluxo de pedestres."
Outra placa de sinalização muito comum na região é a que regulamenta a rota que o pedestre deve seguir, cerceando o direito básico de escolha do melhor e mais seguro caminho e dando, como sempre, a preferência ao veículo motorizado que, mais potente e rápido, tem prioridade e preferência nas rotas mais curtas e diretas. Veja que a placa orienta para um beco na lateral de um viaduto.
Foto 9: À esquerda do viaduto, acesso estreito e
pouco convidativo para o pedestre.
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Observem na foto acima que a placa foi instalada erroneamente, pois teve a seta removida porque indicava ao pedestre a direção errada.
Foto 10:
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Outra questão, que não foi pensada na obra da Arena Fonte Nova, foi a travessia da avenida. Nenhuma opção foi dada à população que vive nos arredores. Nem passarela, nem sinaleira, nem ao menos faixa de pedestre.
Foto 11: A alternativa deixada para as pessoas
coloca em risco suas vidas.
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Como vimos na legenda da primeira foto, foram dadas aos carros 9 pistas de 3,5m cada, totalizando 31,5 m de asfalto. Em contrapartida, há apenas duas calçadas, que com muito boa vontade, em seus melhores trechos, tem 2m, ou seja, menos de 13% do espaço destinado aos carros foi reservado aos pedestres. Para os ciclistas, nada, mesmo sendo notável o aumento do uso de bicicletas em nossa cidade. Os ciclistas precisam transitar de forma arriscada no meio dos veículos em avenidas de alto fluxo e velocidade.
Triste Bahia! O planejamento da cidade e sua consequente implantação continuam voltados para uma ótica autoritária, desumana e elitista. Não levam em consideração os novos enfoques mundiais que valorizam mais o homem que o carro. E pensar que boa parte desses inúmeros viadutos só serão usados eventualmente em dias de jogos, enquanto a circulação das pessoas é uma necessidade diária...
Texto e fotos: Henrique Oliveira de Azevedo
Edição: Mateus Siqueira



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